Desafio 10 minutos

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Campanha aposta na ideia que a intensidade do vínculo é mais importante do que a quantidade de horas que os pais passam ao lado das crianças.

                                                                                                                                                                        Por Piero Vergílio / Revista NA MOCHILA

 

Acordar pela manhã e ter uma agenda repleta de compromissos para cumprir: levar – e buscar – os filhos na escola, ou em cursos extracurriculares, como inglês ou natação, por exemplo. Poucos momentos depois, já no ambiente de trabalho, é preciso foco para atingir suas metas ou executar as atividades que lhe foram designadas. Há ainda quem, quando volta para a casa, tenha que preparar as refeições, lavar a louça, fazer a limpeza e ainda organizar tudo para recomeçar no dia seguinte. Agora mesmo, enquanto folheia a edição desta revista, em que outras coisas você está pensando? Ou fazendo? É bem provável que esteja aproveitando para olhar se há recados na agenda das crianças, além de verificar se o material escolar ou o uniforme estão em ordem.

Se esta não é a rotina de sua família, com certeza você conhece alguém que vivencia uma situação parecida. Já que não é possível prolongar a duração de um dia, nem criar um clone – como sugerem os filmes futuristas de ficção científica – resta a muitos papais e mamães a opção de se organizar, aproveitando-se de toda a brecha que surge na agenda, para tentar conciliar vida pessoal, compromissos de trabalho, afazeres domésticos e a responsabilidade de cuidar das crianças... ufa!!!

Em meio a tantos compromissos, muitos pais se culpam por não poder estar ao lado dos filhos tanto quanto gostariam. Alguns procuram amenizar o remorso pela ausência e acabam presenteando as crianças e adolescentes com produtos ou objetos de valor. Mas, de acordo com o cientista social e educador Guilherme Cechelero, este não é o melhor caminho. Ainda que se tenha pouco tempo disponível, é possível estabelecer um vínculo de qualidade com a criança. Quando bem aproveitados, até mesmo dez minutos podem fazer toda a diferença.

Para o educador, o que vale não é a quantidade de horas perto dos seus filhos, mas sim os gestos de atenção, carinho e amor dados à eles. “Posso passar quatro horas com o meu filho, mas não adianta nada se a televisão estiver ligada ou eu ou ele ficarmos olhando para a tela. Posso ficar dez minutos com o meu filho, mas, se neste período, eu brincar, sorrir, dar carinho e falar como o amo, a intensidade será diferente, mesmo com menos tempo”, constata.

Fortalecimento de vínculos

Tão importante quanto o discurso são as ações que visam o fortalecimento dos vínculos familiares. Idealizador do Projeto “Prioridade Absoluta” – Guilherme conduz oficinas em Centros de Educação Infantil (CEIs) de várias cidades de Santa Catarina, cujo objetivo é sensibilizar a família sobre a importância de impor limites sem o uso da violência física ou psicológica. Nestes encontros, nasceu a “Campanha dos 10 minutos” na cidade de Itajaí, quando propôs aos pais que passassem dez minutos por dia com seus filhos.  A iniciativa tem, segundo ele, três objetivos principais: a sensibilização dos adultos, o compartilhamento de informações sobre o desenvolvimento das crianças e a adesão a uma campanha educativa, que reforce o conceito de protagonismo da família.

“Uma grande dificuldade dos pais, nos dias de hoje, está em perceber que uma criança é uma criança, ou seja, que ela ainda esta em processo de desenvolvimento. Eles, às vezes, se esquecem disso, e cobram dos filhos posturas e comportamentos de pessoas adultas. Falam com os pequenos, mas não conseguem perceber que ali tem um corpo, uma mente em desenvolvimento”, alerta o educador.

Guilherme acredita que, a partir do momento em que há esta percepção, os pais passam a entender que usar o berro – ou a força física – não ajuda em nada. Assim, o primeiro passo da campanha foi compartilhar informações sobre o desenvolvimento físico, psicológico e moral e, ao mesmo tempo, sensibilizar os adultos para que eles reavaliem as suas próprias atitudes. O educador lamenta, por exemplo, que a “cultura do toque” – ou, em outras palavras, o hábito de fazer um carinho – ainda não seja uma prática corriqueira entre muitas famílias.

“Segurar na mão o filho para atravessar a rua ou para alimentá-lo, dar banho e tocar na criança é uma coisa, agora dar carinho, brincar é outra bem diferente! A criança tem algo tão lindo que, nós, adultos, às vezes ignoramos: o poder de imaginar. Por essa razão estamos incentivando os pais a brincar com os filhos: use a imaginação; dê atenção total a eles por 10 minutos, no mínimo”, sugere.

O papel da escola

Quando, por falta de orientação adequada, muitos pais e mães não sabem lidar com o comportamento da criança, é comum que se sintam com uma espécie de “dívida moral”, e sejam cobrados por isso. Eles, então, acabam pedindo a ajuda da escola, por acreditar que os profissionais de educação sejam capazes de encontrar soluções para amenizar seus problemas. Para Guilherme, é importante que haja uma parceria, mas a família não deve abdicar de sua responsabilidade.

Por outro lado, o educador acredita que a instituição de ensino pode “ir além” e ser mais do que uma “prestadora de serviços” e cita como exemplo a mudança de percepção dos pais que já participaram das oficinas de sensibilização e aderiram à campanha dos 10 minutos. “A escola pode e deve ser um espaço de integração comunitária, onde sejam disseminadas ações em prol do fortalecimento do vínculo familiar. As professoras participantes do projeto em Itajaí (SC) aumentaram sua autoestima e sua confiança no trabalho, pois hoje também estão sentindo que fazem a diferença na comunidade: elas sabem do seu papel como profissionais que não apenas desempenham sua função, mas mudam o mundo”, celebra.

Guilherme faz questão de reforçar que o uso de chinelos, cintas, ou da temida “cara feia” não são as melhores estratégias para quem deseja impor limites. Em contrapartida, o diálogo, o amor e o carinho são fundamentais para a conquista do respeito mútuo. Para ele, quanto mais tocamos, interagimos, sonhamos, mais calma a criança fica, mais sincronia entre os pais e os filhos acontece, mais diálogo existe e, consequentemente, a disciplina e os limites ficam fáceis de ser trabalhados.

Por fim, ele faz um convite irresistível. “Você já deu um beijo no seu filho hoje? Já brincou? Já deu um sorriso gostoso? Já fez cosquinhas? Tudo bem, se não teve tempo ainda. Então, que tal fazer isso agora? Largar tudo o que estiver fazendo, desligar os aparelhos e dar amor e carinho para as crianças? Por apenas 10 minutinhos: você vai gostar!”.

 

Nossa fonte

Guilherme Cechelero, cientista social e educador   

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Desafio NA MOCHILA

10 minutos com seu filho

Queremos que faça uma experiência familiar. Pode ser por 3 dias seguidos, durante uma semana ou o tempo que achar necessário.

Atente-se às 4 regrinhas básicas:

  1. Dedicação exclusiva: você deve ficar 10 minutos ininterruptos com seu filho. Desligue o celular e livre-se de qualquer outro elemento que possa tirar a sua atenção.

  2. Toque de amor. Este tempo será usado para reforçar o contato físico. Vale pegar no colo (até os mais grandinhos), fazer cosquinhas, massagens, carinhos, contar histórias, ouvir histórias... Nada de TV, videogame, tablet ou qualquer outro equipamento que possa atrapalhar esse momento só de vocês.

  3. Esqueça tudo! Desligue o botão da mãe profissional ou do pai executivo. Aproveite para relaxar e esquecer que existe vida fora da sua casa.

  4. Desafie outras famílias. Compartilhe a sua experiência nas redes sociais, com um relato, uma foto ou um vídeo, e lance o desafio para outro pai ou mãe. Não se esqueça de marcar a hashtag: #10minutoscommeufillho.

Comece já! Seu filho merece todo esse amor!

 

Fonte:

Artigo desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I. Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.